Weslley Vaz Cerquinho
Hoje vamos partir de uma parábola ensinada por Cristo: As dez moças (Mateus capítulo 25). Jesus disse: — Naquele dia o Reino do Céu será como dez moças que pegaram as suas lamparinas e saíram para se encontrar com o noivo. Cinco eram sem juízo, e cinco ajuizadas. As moças sem juízo pegaram as suas lamparinas, mas não arranjaram óleo de reserva. As outras levaram vasilhas com óleo para as suas lamparinas. O noivo estava demorando e, então, a cochilar, pegaram no sono. À meia-noite se ouviu este grito: “O noivo está chegando! Venham se encontrar com ele!” Então as dez moças acordaram e acenderam as suas lamparinas. Aí as moças sem juízo disseram às outras: “Deem um pouco de óleo para nós, pois as nossas lamparinas estão se apagando.” “De jeito nenhum”, responderam as moças ajuizadas. “O óleo que nós temos não dá para vocês e para nós. Se querem óleo, vão comprar!” Então as moças sem juízo saíram para comprar óleo, e, enquanto estavam fora, o noivo chegou. As cinco moças que estavam com as lamparinas prontas entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi trancada. Mais tarde as outras chegaram e começaram a gritar: “Senhor, senhor, nos deixe entrar!” O noivo respondeu: “Eu não sei quem são vocês!”.
E Jesus terminou, dizendo: — Portanto, fiquem vigiando porque vocês não sabem qual será o dia nem a hora.
Vamos entender primeiro os elementos dela para depois falarmos sobre o assunto de hoje.
Na Bíblia, Cristo é codificado como o noivo da humanidade, dos espíritos que habitam o planeta Terra. Assim, cada ser humano é uma noiva de Cristo e está se preparando para o casamento. Esse é o primeiro aspecto dessa historinha.
Outro aspecto: as noivas (os espíritos humanizados) ficam na escuridão esperando o noivo. Mas, repare, não os noivos! Existe apenas um noivo para todas as noivas e ele é Cristo, o amor.
Para estar vigilante é preciso ter luz. Algumas têm a luz e outras não. As que não têm, não conseguem se unir ao noivo, não conseguem entrar no recinto do casamento, ou seja, no reino espiritual.
De tudo isso podemos compreender o seguinte: os espíritos que estão vivendo no orbe terrestre um dia casarão com Cristo, ou seja, alcançarão a elevação espiritual. Mas, enquanto esperam por esse momento precisam se manter preparados para o encontro, pois não sabem qual será o dia e a hora que irão casar, ou seja, o dia e a hora em que voltarão para o mundo espiritual. Em outras palavras: o dia e a hora em que morrerão!
Esse é o tema da palestra de hoje e a pergunta que eu quero fazer inicialmente é a seguinte: Você está preparado para morrer? Será que você está pronto para abandonar a encarnação e viver só no mundo espiritual?
Essa é a minha pergunta e o tema da conversa de hoje, que será realizada a partir da parábola das dez moças esperando o casamento. Será que você esta pronto para morrer? Será que dá para sair da carne nesse exato momento e ter luz suficiente para ingressar no recinto do casamento?
Participante: Sócrates dizia que a filosofia era uma preparação para a morte. Seria algo semelhante ao conhecimento espiritual? A Filosofia como um instrumento de transformação da consciência?
Sim. A transformação da consciência é a preparação para a morte. Vamos falar sobre isso com muita calma, pois estar preparado para a morte é saber se tem a consciência necessária para desligar-se da Terra.
Por quê é preciso ter uma consciência específica para poder desligar-se da Terra?
Só para começar o assunto, morrer nada mais é do que isso: desligar-se da Terra, das coisas mundanas. Morrer não é nada diferente disso. Quem morre apenas se desliga das coisas mundanas.
É sobre isso que eu quero falar hoje: a transformação da consciência através da Filosofia, da Espiritologia, do Espiritismo, da Psicologia, do Cristianismo é o caminho para preparar-se para a morte.
Participante: E o que a gente faz depois da morte?
Depende...
Se você gosta de conviver com a sua família, vai ser isso que vai fazer depois que morrer. Vai ficar preso aqui junto aos seus familiares. Se gosta do Tibete, vai morrer e ficar preso lá.
Preste atenção: a morte não é algo físico, mas uma transformação de consciência. Por isso pergunto: será que você está vivendo para morrer? Esse é o ponto fundamental da vida para aqueles que se dizem buscadores.
Você vai morrer um dia e a encarnação, a sua existência, é um preparatório para a morte. Não há mais nada a se fazer na vida, a não ser se preparar para voltar ao reino do céu, para voltar ao mundo espiritual.
É isso que precisa ficar bem claro, pois tudo que você faz durante a vida carnal não é real, não existe. Tudo vale por um determinado tempo e só vale para você. Sendo assim, a vida humana é Relativa, não absoluta.
Acontece que alguma coisa para ser Real tem que ser absoluta. Por isso nada do que você faz durante a vida interessa para a Realidade. Ou seja, se estuda, se casa, se tem filho, se planta uma árvore... Nada disso interessa. O que vai interessar é se ao vivenciar essas coisas, está, ao mesmo tempo, se preparando para morrer.
Ou seja, você vive hoje com a consciência de que vai morrer? Vive hoje com a consciência de que a família que tanto preza vai acabar na morte? Vive hoje com a consciência de que o prazer que busca tão enfaticamente não terá nenhum valor depois da morte? Quando torce pelo seu time de futebol, vive com a consciência que vai morrer e ele vai continuar existindo?
A cada momento da sua vida, você vive com a consciência de que pode ser o último? Vive preparado para esse retorno a pátria espiritual ou só vai se lembrar disso no momento da morte? Ou será que só vai se lembrar que tem que voltar a viver como espírito depois do desencarne?
Essas são as primeiras perguntas que faço, pois, como disse, nós estamos lendo a Bíblia para trazer o ensinamento de Cristo para a nossa vida. Trazer o ensinamento do Cristo é dizer: você é uma das cinco noivas que têm o querosene de reserva para esperar o noivo ou é uma das que vai esperar a hora do noivo chegar para saber que está sem luz?
Participante: E se eu não for preso a nada, o que vou fazer depois da morte?
Se você não for preso a nada material, depois da morte, vai viver o espiritual. Agora se for preso ao material, vai morrer e vai continuar aqui, sem corpo, mas preso às coisas materiais.
Para responder a tudo o que perguntei antes, vamos começar falando da morte...
Um casamento ou uma faculdade, por exemplo, podem durar anos. Já o tempo de uma viagem dura horas e o de um jogo de futebol minutos. Enfim, todos os acontecimentos da vida têm uma extensão de tempo. Menos um: a morte.
A morte não dura meses, anos, minutos, horas. A morte acontece em uma micro fração de tempo. Num momento você está vivo e no outro está morto.
Essa é outra consciência que é preciso ter! Você não pode e não deve contar com a perspectiva de entrar num processo de morte porque não existe tal processo. A morte acontece subitamente.
Você pode achar que vai sentir a morte chegando e que poderá correr para se preparar, mas isso é ilusão! Mesmo os doentes que estão em fase terminal ainda acham que vão viver dias, semanas ou meses, mas a morte não tem essa característica. Ela é igual ao machado que desce de uma vez só.
Sendo assim, não dá para esperar... Não dá para deixar para se preparar para a morte depois...
Durante o casamento você pode até relaxar porque se hoje fizer uma besteira terá tempo para se recompor. Durante a escola pode relaxar porque se fizer uma besteira terá tempo para mudar o que fez. Agora, na morte, não há volta. Não há como fazer o que não fez a não ser em outra existência. Na morte, não há como dizer: 'eu fiz errado, dá licença, eu vou começar tudo de novo'.
Viver é se preparar para morrer e compreender que ela vai acontecer de súbito. Por isso é preciso que você esteja atento e vigilante como Cristo ensina. Mas você vive, completamente, ao contrário.
A cada dia, a cada hora, a cada minuto programa mais coisas para fazer na Terra, como se fosse eterno, imortal. Age como se o momento da morte pertencesse a todos, menos a você.
Não se pode viver a vida desse jeito. Quem vive a vida desse jeito não consegue libertar-se da Terra, não consegue casar com Cristo, não consegue sair do ciclo das encarnações.
É preciso que a cada minuto, a cada problema diga: 'e se esse for meu ultimo minuto, estarei pronto para morrer agora? Estarei pronto para abandonar isso agora'?
Participante: Sabemos de alguma forma quando iremos morrer? Temos essa consciência?
Racionalmente, não. O espírito sabe quando, pois isso lhe é revelado antes da encarnação. Esta informação foi respondida pelo Espírito Verdade em O Livro dos Espíritos, mas, racionalmente, você não sabe.
Participante: Em um centro espírita, minha mãe recebeu uma mensagem dizendo que meu avô já estava esperando por ela e foi uma semana antes dela morrer.
O Espírito pode ter uma noção, mas não sabe o dia ou a hora.
Cristo diz assim: 'o dia e a hora vai chegar, isso é certo; mas só Deus sabe quando será o dia e à hora'. Por isso, nós, os espíritos desencarnados, podemos ter uma noção e receber uma ordem de Deus para falar, mas não sabemos o dia e hora precisa.
Participante - Alguém consegue saber que desencarnou logo após a morte?
Perceba: você fala em saber que desencarnou, mas isso é um processo racional. Todo processo racional é ego.
Sendo assim, o Ego pode criar a informação que você desencarnou, mas isso vai acontecer quando merecer. Somente quando, por merecimento, tiver a condição de receber essa informação, Deus vai permitir que a tenha.
Apesar disso, afirmo que noventa e nove por cento(99%) dos que desencarnam não sabem de imediato. Eu costumo sempre dizer que o próprio irmão do Arjuna, que era seguidor fiel de Krishna, teve que passar pelo Umbral, pelo menos por um minuto.
Respondia as perguntas, vamos, então, começar a conversar sobre essa preparação para, a qualquer momento, estar pronto para libertar-se do mundo material. Como é que um ser se liberta da Terra? Quando é que ele vai estar apto a se libertar da Terra? Quando passar a viver o presente...
Ou seja, passar a viver o que se tem hoje e não o futuro. O futuro não existe e quem projeta ou cria futuros está preso a Terra, está gerando tempo para estar na Terra ou, pelo menos, uma previsão de tempo para estar.
Se você está pensando no que vai fazer amanhã, não está pronto para morrer. Isso porque não sabe se vai estar vivo amanhã. E se desencarnar essa noite? Se isso acontecer, vai querer viver o amanhã que projetou e não vai conseguir se desligar do mundo material, do mundo que projetou para ter amanhã.
A vida foi feita não para viver amanhãs, mas sim o hoje. É por querer viver o amanhã que o espírito humanizado torna a vida é completamente instável.
Hoje você sai à rua e não sabe se volta para casa. Mesmo tendo a consciência dessa instabilidade, continua projetando futuros como se fosse normal sair de casa e voltar. Mas você não sabe se voltará...
É essa consciência que denota uma preparação para a morte: 'estou saindo de casa; vou voltar? Não sei... Não sei se vou voltar, não sei o que vai acontecer na rua, não sei o que poderá suceder. Quando voltar, eu verei se voltei'
Preparar-se para a morte é isso: viver o que está vivendo neste momento sem se preocupar com mais nada, sem projetar mais nada. Mas, você vive sempre preparando o dia de amanhã, mesmo dizendo que sabe que ele pertence a Deus.
Quem vive projetado para o futuro não está preparado para morrer. Enquanto você disser que hoje de noite, amanhã de manhã, na semana que vem, no mês que vem, no ano que vem vai fazer isso e aquilo, saiba que deixou de se preparar para a morte. Quando ela vier, vai estar comprando óleo para a sua lamparina e não vai casar com o Cristo, não vai entrar no recinto do casamento.
Participante: Para se desligar da matéria, devemos fazer uma evolução na consciência... É possível morrer e só depois fazer essa evolução na consciência, nos desprendendo da matéria?
Não é pode: vai.
Se você não se desprender na carne agora, vai se desprender depois da morte. Isso porque ninguém pode assumir uma nova encarnação enquanto estiver preso a uma anterior. Ou seja, enquanto você achar que é o João, vai estar preso a essa encarnação e para vir em outra vida como Maria, Josefina ou qualquer outro nome, terá que se libertar do João.
Porém, libertando-se durante a ligação com a matéria carnal, isso conta pontos para a sua elevação espiritual. Depois que sai da carne, tal libertação não conta mais pontos para a evolução.
O Espírito Verdade diz: a evolução só se dá no mundo material. Fora dele existem os intervalos entre encarnações para o espírito se preparar para uma nova encarnação. Por isso, o libertar-se do João após a morte será parte do preparatório para uma nova encarnação e não uma elevação espiritual.
Vamos continuar...
Outra coisa que lhe prende a matéria carnal, são os desejos carnais.
Não estou falando em sexo; estou falando em desejar estar vivo, em desejar ganhar um presente, em desejar ganhar na loteria, em desejar saúde para você, em desejar que a sua mulher ou o seu marido o trate bem. Qualquer desejo baseado em elementos materiais lhe prende ao mundo material. Você fica na dependência daquilo acontecer para ser feliz.
Quem se prepara para a morte não cria raízes na Terra, não se fixa na Terra, por isso não deseja nada da Terra. Não deseja nem um prato de comida, nem uma casa para morar, nem um carinho de quem quer que seja. Ele é auto-suficiente, tendo Deus no seu coração.
Esse é outro aspecto do preparatório para a morte...
Quem está com a sua lamparina acessa, com o seu querosene em ordem no momento em que o noivo chega, não tem desejo algum. Se tivesse, a única coisa que desejaria é que o noivo chegasse antes. Sabe por quê? Porque a noiva que quer que o noivo chegue logo, valoriza positivamente o casamento, ou seja, a morte.
A morte, para quem está preparado para ela, é um momento de felicidade, é um momento de ternura, é um momento de realização. Mas, o ego induz o espírito a acreditar que deve permanecer vivo e que viver é bom e morrer é ruim. É por isso que você cria desejo em cima de desejo e, pior que isso, nenhum desejo realizado lhe satisfaz.
Repare bem nisso! Você deseja uma coisa e, no momento que consegue o que deseja, pode ter alguns momentos de satisfação, mas logo vem o ego e cria um novo desejo. Para quê? Para lhe manter preso, para lhe manter enraizado na Terra e distraído quanto à perspectiva da chegada do noivo.
Quem quer casar com Cristo vive atento e esperando, ansiosamente, a chegada do noivo. Não estou falando em se matar, mas sim em viver para morrer, em transformar a morte no coroamento de uma ação espiritual chamada encarnação.
O ego não deixa você se lembrar que é um espírito encarnado. Ele diz que é um ser humano. Ele diz que é um elemento da Terra, mas você é um Espírito.
Para que a sua lamparina esteja acesa e você não tenha que voltar para buscar mais querosene, é preciso não viver o futuro, não programar ou esperar futuro e também não acreditar em desejos, sonhos, planejamentos, esperança...
Você diz que sonhar não custa nada, mas custa muito caro. Custa perder a hora do casamento... É isso que custa sonhar, programar, viver a ilusão. Você não está errado se continuar vivendo assim, mas se quer casar com o Cristo precisa reformar-se.
Essa reforma é a elevação espiritual, é a reforma da consciência: não ser mais um ser humano e sim um espírito na carne. O espírito na carne é aquele que tem a consciência de que é um espírito eterno. Esta consciência leva à morte do ser humano.
Muitos já foram os avisos dos espíritos desencarnados a este respeito. Aliás, este é o significado do último segredo de Fátima: o fim da raça humana. Maria avisou que vai haver o fim da existência de espíritos que se acreditam como humanos e se iniciará a geração dos espíritos que sabem que eram antes de existir. Assim será a transformação da Terra, deixando de ser um planeta de Provas e Expiações para se tornar de Regeneração.
Mas, tem outra coisa que precisa ser alcançada para se libertar da Terra: não ter paixões...
Não ser apaixonado positiva ou negativamente por nada desse mundo. Não achar nada certo e nem errado, bom ou mal. Não querer ganhar sempre ou ter medo de perder; não ter prazer ou desprazer com alguma coisa; não desejar ter fama ou ter medo da infâmia; não querer elogios e nem ter medo da crítica...
Quem nutre paixões terrestres capazes de gerar o bem e o mal, o prazer e a dor, a fama ou a infâmia, o elogio ou a critica, está fincado na Terra e não tem como sair disso, pois toda a sua vida depende dessas paixões. Quem passa o dia inteiro julgando o certo e o errado, que aquilo deveria ser feito de outra forma, que aquilo não poderia estar acontecendo ou mesmo dizendo gostei disso, não gostei daquilo, vai se enraizando, se enraizando, se enraizando...
São dessas paixões que surge o desejo: 'eu gosto daquilo', 'eu quero que aquilo aconteça' e quando isto é aceito como real, você se prende à condicionalidade, à dualidade que só existe no planeta Terra.
Quem se prepara para morrer luta contra essas paixões. Não se deixa levar pelas paixões que o ego cria, não acha nada bonito ou feio, não acha nada certo ou errado...
Se preparar para morrer é abrir mão das paixões humanas. É abrir mão daquilo que você gosta, daquilo que quer. Mas, também é abrir mão de não gostar de nada ou de não querer alguma coisa. É soltar todas as amarras que lhe prende ao mundo carnal.
Quem não se solta, quem só acha bonito o que está fazendo ou o que acha certo, vive preso ao desejo, vive amarrado a Terra...
É por isso que usei essa parábola para tocar neste assunto. Ela é perfeita...
Será que você está preparado para morrer? Será que não tem nada para fazer amanhã para poder morrer hoje em paz? Será que não tem nenhum desejo pendente que lhe impeça de morrer hoje em paz? Será que não tem alguma paixão que lhe impeça de morrer hoje em paz?
Porque você tiver o que fazer amanhã, se estiver esperando alguma coisa ou se tiver algo que você não é capaz de abrir mão, sinto muito: você não está preparado para o casamento e não vai conseguir entrar no ambiente do casamento.
Participante: Certo! Desligo-me de tudo, nada sei, nada desejo, nada possuo... Eu consigo viver assim, mas como ficam os compromissos assumidos com a família? E os filhos?
Que compromisso você assumiu com a sua família e filhos? De representar determinado papel para que o ego dos filhos e da família viva determinadas provas? Esses atos vão acontecer. Deus não vai deixar de dar a cada um o que necessita e merece.
Agora, internamente, você tem que estar desligado de tudo. Eu não falei em se desligar externamente. Eu falei em se desligar de desejos, de paixões, de planejamentos e não de atos.
Eu falei em não desejar um carro novo, mas não falei em não ter um carro novo. Eu não falei em não ter uma casa nova, mas falei em não ser apaixonado pela casa que tem.
Porque você se preocupa com o que vai comer amanhã, se é Deus que dá comida aos bichos, será que não vai dar a você? Este é um ensinamento de Cristo. Repare que ele não falou que você não deve comer, mas disse que não deve se preocupar.
A preocupação é uma paixão: é o resultado do fato de estar apaixonado pela idéia de que tem que dar o alimento para os seus. Se você acredita nisso, não está pronto para morrer. Sabe o que vai acontecer, se você morrer agora? Vai dizer assim: “e agora, meu Deus, minha mulher e meus filhos, como vão ficar?” Ou seja, você vai voltar para trás e vai perder o noivo.
Participante – Eu acho que as variações do mundo são boas porque provém de Deus. Não importa se somos tristes ou alegres, mas saber que tudo é passageiro e curtir cada momento sempre esperar o próximo ou comparar ao anterior.
Então o bom não é a variação do mundo, mas sim o estado de espírito com o qual você vive a avaliação do mundo.
O que você chama de bom, eu chamo de Bem. Bem é tudo aquilo que provêm de Deus; bom é uma parte do Bem que você acha boa...
O Bem não é bom e nem mal: é apenas Bem. É essa a diferença!
Agora, se você achar a tristeza boa, será masoquista. A tristeza não é boa é Bem, porque bom é aquilo que você gosta e Bem é aquilo que não importa se você gosta ou não, mas existe como fruto do amor do Pai por seus filhos.
Por isso, além do planejamento do futuro, dos desejos, das paixões, você precisa se desligar ainda das posses. São elas que criam as paixões e os desejos.
Deixe o mundo enterrar os mortos e venha comigo. Você já cumpre a lei, então abandone todas as suas posses e me siga! Não foram essas as palavras do Cristo?
Só que, quando se fala em possuir, vocês pensam logo em objetos, em posse material, em posse das coisas. Você precisa se libertar delas, é claro. Você precisa se libertar do seu carro, da sua casa, do seu emprego se quiser morrer em paz. Caso contrário, vai morrer preocupado com o que seu filho vai fazer com a herança que deixar; vai morrer preocupado com o que seu filho ou a sua mulher vai fazer com a casa que deixou... Mas, você precisa libertar-se de outras posses também.
Além da posse material, você precisa se libertar da posse sentimental: o meu filho, a minha mulher, o meu amigo, o meu inimigo...
A idéia do “meu” é uma posse. Quando o “meu” é dirigido a outro ser humano, denota uma posse sentimental. Se você não se libertar desse “meu filho”, não está pronto para morrer, para se encontrar com o Cristo.
Se estiver preocupado com o “seu filho”, vai ficar aqui querendo tomar conta dele; se não se libertar da “sua esposa”, vai morrer e ficar aqui tomando conta dela; se não se libertar do “seu inimigo”, vai morrer e virar obsessor dele, pois estará preso a necessidade de se vingar.
Para se estar preparado para a morte, é necessário que você se liberte dos sentimentos que lhe leva a possuir o próximo.
Estas são duas possessões das quais você precisa se libertar: a posse material, do objeto, e a posse sentimental. Mas, existe uma terceira da qual também precisa se libertar. Trata-se da posse moral que é reconhecida pelo “eu sei”.
“Eu sei” o que vai acontecer depois da morte; “eu sei” como é o mundo espiritual... Quem diz isso não está preparado para morrer porque o ego não conhece a Realidade do Universo, mas apenas cria idéias humanas sobre ela. Quem se prende a estas idéias não consegue saber o que acontece do outro lado da vida.
Por isso, preparar-se para a morte não é buscar cultura: é libertar-se das culturas.
Aprender a morrer não é adquirir novas verdades que sejam mais ou menos espiritualizadas, mas alcançar o “eu não sei nada”. Só quando você não souber de nada, poderá aprender algo.
Cristo disse: “louvado seja Deus que mostra ao simples, aquele que não sabe nada o que esconde dos sábios”. Não que Deus queira esconder alguma coisa de alguém, mas porque Ele não pode chegar a um sábio e ensinar porque o sábio “sabe”.
Depois de me ouvir falar que você não deve programar futuro, que não deve prender-se a desejos, que não deve apaixonar-se por nada nesse mundo, que não deve possuir as coisas desse mundo, seja materiais, pessoas ou culturas, será que você está preparado para morrer?
Mas, não pensem que acabou: até agora eu falei apenas de elementos do mundo humano. Disse que você tem que doar o que quer, o que é apaixonado, o que você possui. Agora vou falar algo muito mais importante que precisa ser feito: você tem que se libertar de você...
A última coisa que você precisa fazer para se preparar para morrer é deixar de ser quem você é. Você tem que deixar de ser o José, a Maria, o Pedro... Enquanto for José, Maria ou Pedro, estará preso na Terra. Isso porque o José, a Maria e o Pedro são da Terra e não espíritos. Quem não se liberta do ego não se prepara para voltar a ser só um espírito.
Libertar-se do ego é a coisa mais importante, porque quem se liberta do ego acaba com o egoísmo, o querer para si...
Todos os que se identificam com uma personalidade humana são egoístas. É dela que surge a paixão, o desejo, o esperar o amanhã...
Então, para se preparar para morrer você tem que vir realizando o despossuir dentro da escala que conversamos hoje: libertando-se do planejamento, do futuro, do desejo, das paixões, das posses... Mas, esta realização só será conseguida quando se libertar do José, da Maria, do Pedro...
É por isso que eu deixei esta parte para o final, porque esse final é o início. Sabe por quê? Porque o José, a Maria e o Pedro vão morrer na sua morte...
O José que você é hoje, essa personalidade transitória, vai morrer e quem se apega ao José, quer prolongar a existência dele, um dia vai ficar sem saber o que fazer.
“Por que o José morreu! O José acabou e agora meu Deus? O José morreu, como é que eu faço? Como é que eu vivo se o José está morto? Cadê a minha masculinidade, a minha feminilidade, cadê ao meu corpo bonito ou feio?”
Esse é o ponto fundamental da vida: quem não se prepara para morrer não viveu; quem não se prepara para morrer perdeu a encarnação...
Portanto, seja vigilante com o seu ego. Não o deixe planejar futuros, criar desejos, paixões, posses e uma personalidade, pois você não sabe a hora do casamento, a hora que o noivo vai chegar...
Não deixe para se preocupar com isso no momento da morte porque ela não lhe dá tempo para você se preocupar com ela. Para morrer, basta estar vivo. Ocupe-se o tempo inteiro em estar preparado para o casamento, pois morrer sem ser para se casar com o Cristo não vale de nada.
Se isso acontecer, simplesmente será mais uma encarnação perdida e você terá que viver outras até chegar o dia em que a noiva prometida terá que se casar com o Cristo. Sendo assim, para que ficar adiando o casamento? Quem adia o casamento com Cristo está simplesmente jogando o tempo fora, perdendo oportunidades de criar uma grande família, de viver uma relação que satisfaz por si só.
Se você quer um conselho: passe a acordar de manhã e se veja se está preparado para morrer naquele dia...
Outro conselho: se você trabalha na apometria, na umbanda, no centro espírita, na igreja católica, na igreja evangélica ou em qualquer segmento religioso e não ajudar o próximo a se preparar para morrer, você não fez nada. A única ajuda que você pode dar a alguém que está vivo, no sentido de estar ligado ao ego, preso à matéria, é o ensinar a morrer...
É isso que este preto-velho faz e é isso que o pastor, o padre e você devem fazer: preparar-se para morrer e ensinar os outros a morrer, ensinar a estar preparadíssimo para o casamento com Cristo.
Que a graça de Deus esteja com todos
(Texto de Estudos sobre o Novo Testamento com o Pai Joaquim de Aruanda)
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